terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Umas viagens por aí, 2/2

     - Episódio 2/2


O dia tinha sido de ressaca da noite anterior, tinha rolado quadrilha e os meninos estavam lindos de saias e as meninas de bermuda surfista e cavanhaque, aquela altura já nos sentíamos pertencentes àquele lugar. Os rostos agora conhecidos nos sorriam depois das atividades, biodanças, rodas de fumo e culturais. A energia rolava por aquela universidade de paredes antes mórbidas, a natureza parecia se mostrar exibida para os viajantes que caminhavam por ai sorrindo e conversando sobre política e afeto.

Seguimos nos ônibus lotados de pessoas de outros estados, Seu Dedé viu minha garrafa de vinho barato nas mãos e me deu dica de drinks. Era por volta de dez da noite, quando descemos do ônibus, recebemos a notícia de que teríamos que caminhar muito pelas ladeiras ingrimes de lá. Vez ou outra uns moradores saiam pra ver o que era aquela farra chegando, mas ficou bonito de se ver, uma romaria de gente jovem conversando alto, cantando, subindo e descendo ruelas, rompendo o silêncio à meia luz dos postes. 

Chegando lá cortei os ácidos e dei a quem ia querer, era dia de Evoé e me senti em casa. Começou o show e eu me sentia puro corpo, me movimentava sem parar, as luzes coloridas nos tomavam e o som da banda penetrava cada poro, fazendo transcender. Do meu lado, pessoas desconhecidas se encostavam tornando aquilo uma grande rede de energia. 

Voltamos madrugada à dentro, como deuses desbravando o mundo, gente que tinha provado pela primeira vez pareciam que iam voar a qualquer momento na névoa fria que fazia pequenos redemoinhos no vento.

Encontramos amigos antigos e novos e nos sentamos pra ouvir umas poesias, conversar bobeiras, dividir os últimos cigarros existentes e esperar o amanhecer. Estava em plena atividade, falando sem parar, sentindo muito ainda, o frio doía a pele, o moletom velho me aquecia um pouco e das mãos geladas outras mãos cuidavam. Mas a noite se foi e a Léia recém acordada, coberta com uma canga colorida, me dizia que o doce não tinha batido, tomamos outra dose e vinte minutos depois éramos as únicas pessoas instigadas daquele lugar, onde todos dormiam ou despertavam exaustos. Fomos buscar mais fumo na barraca e descemos pra comer, não conseguimos. 

Depois passamos as próximas cinco horas de nosso dia deitadas numa grama, olhando o céu que mudava rápido demais, o tempo voando sem nem existir e a gente se abraçando, e apontando admiradas as nuvens branquinhas brincando no azul, enquanto os passantes achavam-nos ridículas, mas eles não importavam. 

O encontro terminava quando parecia acabar de começar, arrumamos as malas levando na bagagem um tanto de lembranças e saudades e deixando nosso amor naquele lugar tão incrível, que foi nossa casa por esses dias. Por fim, sinto que todos que presenciaram aquele ambiente coletivo sentiram igual, ou muito parecido, ao que sentimos e quando recordamos bate uma saudade gostosa que arrocha o coração e quer que passe rápido esse ano pra mais um encontro acontecer. 

Um mantra da noite, gritando aos pés do palco
"Eu sou, eu soooou, eu sooou amor da cabeça aos pés"

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Umas viagens por aí, 1/2

- Episódio 1/2

Eu já tive consideráveis experiências com lsd, as mais fortes foram á um mês num encontro da universidade. Éramos um grupo grande, e vinhamos de um período de amadurecimento muito forte juntos e um dia antes do encontro, o pessoal que dormiu lá em casa já sentia o clima, quando um “prensadinho” que ninguém dava muito crédito fez a todos sentir uma explosão de energia tão forte que todos começamos a chorar e depois a sorrir de felicidade.
 
Com esse clima começamos nossa viagem física e mental. O lugar do encontro era mágico, onde geografia espacial não tinha sentido, era como um labirinto, ou uma cidade cenográfica feita especialmente pra a gente. Era louco, cada trilha que pegávamos dava em um lugar que não tinha sentido algum, fomos andando pra o leste e entramos numa trilha onde as raízes das árvores formavam degraus perfeitos, cinco minutos depois saímos no outro extremo da universidade, que era exatamente  onde estávamos acampados.
 

Nesse dia sentimos a natureza tão perto. No meio de gramas, horizontes, lagos e plantas, fumamos um em cada lugar bonito que encontrávamos, e ver aquelas pessoas sorrindo com crianças, despidas de qualquer máscara, sentindo aquilo que a um tempo atrás achei que nunca sentiriam pois não se permitiriam. Mas eles estavam ali, tão felizes e plenos. Tinha vontade de abraçar eles.
 
Depois encontramos um chuveiro coletivo a céu aberto, estávamos ali tomando banho em um único chuveiro e naquele momento encontramos aquele oásis, corremos todos e o céu azul nos banhando com aquela água geladinha arrepiando cada terminação nervosa de nossos corpos, o banho mais gostoso de todos os tempos.
 
Terminamos o dia agradecendo a Jah pelas dádivas e por tudo que ele e a natureza nos proporcionou. Sentia os espíritos da mata me dizerem de respeito e história, as árvores me riam todo tempo e diziam susurrando que ali naquelas matas eu estava segura, que aquilo me pertencia e que eu era parte daquilo.

Senti cada um mais ainda depois desse dia, vi a beleza de cada um, a ingenuidade de muitos, a força de outros, o medo de outros, medos convertidos em sinceridade para superar. Todos tão entregues para sentir que dava gosto de ver meus meninos crescidos.

 

P.S.: Em breve conto como foi o resto do encontro, acho meio vago contar depois de 
tempo passado, minha memória não é grande coisa, por isso que resolvi 
escrever aqui pra lembrar os detalhes sempre

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Música do dia, Oh Jah Jah, me leve, obrigado aí, man!!