O dia tinha sido de ressaca da noite anterior, tinha rolado quadrilha e os meninos estavam lindos de saias e as meninas de bermuda surfista e cavanhaque, aquela altura já nos sentíamos pertencentes àquele lugar. Os rostos agora conhecidos nos sorriam depois das atividades, biodanças, rodas de fumo e culturais. A energia rolava por aquela universidade de paredes antes mórbidas, a natureza parecia se mostrar exibida para os viajantes que caminhavam por ai sorrindo e conversando sobre política e afeto.
Seguimos nos ônibus lotados de pessoas de outros estados, Seu Dedé viu minha garrafa de vinho barato nas mãos e me deu dica de drinks. Era por volta de dez da noite, quando descemos do ônibus, recebemos a notícia de que teríamos que caminhar muito pelas ladeiras ingrimes de lá. Vez ou outra uns moradores saiam pra ver o que era aquela farra chegando, mas ficou bonito de se ver, uma romaria de gente jovem conversando alto, cantando, subindo e descendo ruelas, rompendo o silêncio à meia luz dos postes.
Chegando lá cortei os ácidos e dei a quem ia querer, era dia de Evoé e me senti em casa. Começou o show e eu me sentia puro corpo, me movimentava sem parar, as luzes coloridas nos tomavam e o som da banda penetrava cada poro, fazendo transcender. Do meu lado, pessoas desconhecidas se encostavam tornando aquilo uma grande rede de energia.
Voltamos madrugada à dentro, como deuses desbravando o mundo, gente que tinha provado pela primeira vez pareciam que iam voar a qualquer momento na névoa fria que fazia pequenos redemoinhos no vento.
Encontramos amigos antigos e novos e nos sentamos pra ouvir umas poesias, conversar bobeiras, dividir os últimos cigarros existentes e esperar o amanhecer. Estava em plena atividade, falando sem parar, sentindo muito ainda, o frio doía a pele, o moletom velho me aquecia um pouco e das mãos geladas outras mãos cuidavam. Mas a noite se foi e a Léia recém acordada, coberta com uma canga colorida, me dizia que o doce não tinha batido, tomamos outra dose e vinte minutos depois éramos as únicas pessoas instigadas daquele lugar, onde todos dormiam ou despertavam exaustos. Fomos buscar mais fumo na barraca e descemos pra comer, não conseguimos.
Depois passamos as próximas cinco horas de nosso dia deitadas numa grama, olhando o céu que mudava rápido demais, o tempo voando sem nem existir e a gente se abraçando, e apontando admiradas as nuvens branquinhas brincando no azul, enquanto os passantes achavam-nos ridículas, mas eles não importavam.
Depois passamos as próximas cinco horas de nosso dia deitadas numa grama, olhando o céu que mudava rápido demais, o tempo voando sem nem existir e a gente se abraçando, e apontando admiradas as nuvens branquinhas brincando no azul, enquanto os passantes achavam-nos ridículas, mas eles não importavam.
O encontro terminava quando parecia acabar de começar, arrumamos as malas levando na bagagem um tanto de lembranças e saudades e deixando nosso amor naquele lugar tão incrível, que foi nossa casa por esses dias. Por fim, sinto que todos que presenciaram aquele ambiente coletivo sentiram igual, ou muito parecido, ao que sentimos e quando recordamos bate uma saudade gostosa que arrocha o coração e quer que passe rápido esse ano pra mais um encontro acontecer.
Um mantra da noite, gritando aos pés do palco
"Eu sou, eu soooou, eu sooou amor da cabeça aos pés"